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CARLA MAIA

Eu estava no início da faculdade de jornalismo e eu precisava escrever uma matéria com alguém interessante da cidade. Eu não sabia sobre quem escrever, o que escrever, que história contar. Comecei a olhar as notícias, ler blogs, procurar qualquer coisa que me desse uma luz. Não faço ideia de como eu cheguei na Carla. Mas assim que eu a descobri, tive certeza que era sobre ela que eu queria escrever.

A Carla é cadeirante desde os 17 anos em razão de um sangramento espontâneo na medula. E ela era atleta. Jogava tênis de mesa. Ela me contou sobre o carro adaptado, sobre a rotina de treinos, sobre o namorado. Escrevi a minha matéria. Entreguei para o professor.

– Ela sente prazer? Como ela faz com o namorado dela?

Depois de ler todo o meu texto sobre as conquistas pessoais e profissionais dela, o meu professor só queria saciar a curiosidade mórbida de saber se pessoas em cadeiras de rodas sentem prazer, da cintura pra baixo.

Eu falei que não tinha perguntado sobre esse assunto, que não era da minha conta. O professor argumentou que, como jornalista, essa era a pergunta mais importante que eu deveria ter feito a ela. Fiquei questionando as minhas habilidades profissionais por muito tempo depois daquele feedback. Senti que eu tinha deixado o meu lado pessoal interferir no profissional. Mas não entendia isso como algo ruim, mas me pareceu que aquilo poderia prejudicar a minha visão jornalística.

Anos depois, já formada, entrei numa redação e dei de cara com a Carla. Nós iríamos trabalhar na mesma empresa. O meu primeiro pensamento:

“Ainda bem que eu não perguntei”

Anos depois eu tive uma resposta para as dúvidas que o professor havia plantado. Não, como jornalista, eu não tenho que saciar toda e qualquer curiosidade do meu leitor. Sim, a minha ética e o meu julgamento sobre o que é certo e errado devem guiar o meu trabalho. Ainda bem que eu não fiz uma pergunta cretina, como a que ele disse que eu deveria ter feito. Eu não me perdoaria como pessoa e como profissional. Estar com a minha consciência tranquila foi o que me incentivou a falar com ela e manter uma relação profissional saudável.

Nas voltas que o mundo dá, além de colegas de trabalho, hoje eu gerencio as redes sociais da Carla. Ela é jornalista, campeã de tênis de mesa e foi a representante do Brasil no primeiro Miss Mundo Cadeirante.

Escrever para uma página pessoal exige que você entenda um pouco sobre a pessoa, sobre a forma dela de enxergar o mundo. Eu estaria falando em nome dela, uma pessoa completamente diferente de mim e com uma vida completamente diferente, também. Eu precisei entrar um pouco no nicho das pessoas com deficiência para não escrever bobagem, não ser capacitista, transformar o que ela me mandava em áudio, em texto. Entender a mensagem que ela queria passar.

Vamos para o terceiro trabalho juntas: o primeiro foi quando ela foi cobrir as Paraolimpíadas, em 2016, no Rio de Janeiro. O segundo foi com ela participando do Miss Mundo Cadeirante, em 2017, na Polônia. Ela me conta experiências, histórias, coisas que ela viu, me manda fotos e eu transformo tudo em boas histórias para se contar nas redes sociais. O terceiro vem agora, no fim de 2017, com a participação na Copa Tango, de tênis de mesa. É ou não é pra se orgulhar?

Se quiser conhecer os canais da Carla, são esses: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube

Escrita e Click

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